quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Os Livros de 2015

Porque pelo menos espasmos anuais são precisos pra não declarar o óbito do blog. O que li de bom neste longo ano:

Economia, mercados & afins:

How to be Human, Though an Economist”, Deirdre McCloskey. Coletânea de textos curtos; funciona como se você, economista, tivesse uma tia mais velha cheia de manias e implicâncias que, por acaso, é uma brilhante economista e gosta de dar palpites sobre a vida, carreira e o que ler e não ler. De lá saiu a recomendação do ótimo “The Educated Imagination” (abaixo), entre muitas outras.

The Plundered Planet”, Paul Collier. Melhor livro que li para o curso do Francisco Monaldi. Muito bom para entender como funciona e como deveria funcionar a exploração de commodities.

The Drunkard’s Walk”, Leonard Mlodinow. Ótimo como breve história do estudo da probabilidade e para mostrar como subestimamos o papel do acaso (nesta linha, meu favorito continua sendo o “Fooled by Randomness”—desculpa aí, Samer).

Seeing Like a State”, James Scott. Devia ser leitura obrigatória no primeiro semestre de qualquer mestrado em administração ou política pública. O inferno e os governos estão cheios de boas intenções que fizeram água. Se um dia eu estiver com esse livro e encontrar o Jeffrey Sachs (calculem aí a probabilidade), dou-lhe uma boa livrada.

Micromotives and Macrobehavior”, Thomas Schelling. Ler Schelling é acompanhar o raciocínio de alguém com uns 100 pontos a mais de QI que você, mas que se dá ao trabalho de explicar o que está pensando de forma cristalina para os mortais. Se esse livro fosse lançado hoje, viria com um site para visualizar os modelos dinâmicos, algo que fica meio maçante no papel.

Economic Rules”, Dani Rodrik. Economia como uma coleção de modelos, ou uma defesa sutil e apaixonada do nosso ofício lúgubre.

Por Que o Brasil Cresce Pouco?”, Marcos Mendes. Ainda que a tese principal (que a combinação de democracia e alta desigualdade gera um ambiente que retarda o crescimento) ainda precise de refinamento e evidências mais robustas, é um trabalho de grande fôlego, certamente referência para um assunto de extrema importância.


Temas menos mundanos:

Cinquenta Anos Esta Noite”, José Serra. Serra é um dos Forrest Gumps da nossa política, e tem a mão surpreendentemente leve nessa biografia que merece continuações até os dias de hoje.

My Struggle: Book 1”, Karl Ove Knausgaard. Tem um monte de motivos pra não se gostar desse livro, mas pra mim vale pelos conflitos pais x filhos. Em breve encaro o segundo volume, que dizem ser melhor.

The Educated Imagination”, Northrop Frye. Indicado pela tia McCloskey, sobre a importância de estudar e conhecer literatura, além de só ir acumulando livros lidos. Me fez querer ler a Bíblia de cabo a rabo.

Ainda Estou Aqui”, Marcelo Rubens Paiva. “Feliz Ano Velho” é “o” livro da minha
adolescência; este serve como uma continuação daquela história e um documento de um caso bárbaro, covarde e completamente impune de tortura por conta dos nossos militares. E, claro, é um belo tributo à mãe do autor.

Ficção:

The Story of a New Name”, “Those Who Leave and Those Who Stay” e “The Story of the Lost Child”, Elena Ferrante. As Novelas Napolitanas de Ferrante são o equivalente literário àquelas séries de 12 horas que você devora em menos de uma semana. 1.600 páginas que voam, não sem deixar um rastro de emoções e identificação.

Red Plenty”, Francis Spufford. Um dos livros favoritos da Diane Coyle, mistura realidade e fantasia durante o auge e o começo da decadência do socialismo soviético. Um dos personagens é Leonid Kantorovich, Nobel de Economia de 1975.

O Estrangeiro”, Albert Camus. Não, nunca tinha lido. Estou curioso para ler o recente “The Meursault Investigation”, a história contada pelo irmão do árabe morto.

Barba Ensopada de Sangue”, Daniel Galera. História boa e bem escrita, precisa mais do quê?

A Chave Estrela”, Primo Levi. Levi é dos meus autores favoritos. Se quiser dar um belo presente de Natal para um amigo economista, bêbado e protokeynesiano, acabou de sair, nos EUA, uma edição lindona das obras completas dele.

The Goldfinch”, Donna Tartt. Perde quando desanda pra thriller e podia ter umas 200 páginas a menos, mas ainda muito bom. Vai virar filme, supostamente.

Slaughterhouse-Five”, Kurt Vonnegut. So it goes.

Submissão”, Michel Houllebecq. Na verdade não gostei—tenho pouca paciência para as picuinhas da academia francesa—mas, estranhamente, fiquei com vontade de reler.


Quadrinhos:

O Árabe do Futuro”, Riad Sattouf. Ótima narrativa de uma infância vivida entre França, Líbia (quando ainda havia esperança com Gaddafi) e Síria (quando ainda havia Síria). Vai ter continuação.



Uma Metamorfose Iraniana”, Maya Neyestani. Parece uma versão real e ainda mais cruel do ótimo “A Brincadeira”, do Milan Kundera. Lindamente desenhado.

Vida de Prástico”, Ricardo Coimbra. Coimbra é dos melhores herdeiros do esculacho de Angeli & companhia.


Tudo que li em 2015 está no Goodreads. Minha meta literária pro ano que vem é ler pelo menos um clássico por mês. Feliz Natal, caros leitores!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O tamanho do buraco na economia brasileira

Postei alguns desses gráficos no Twitter e pareceu uma boa ideia juntá-los em um mesmo lugar (ao menos serve para tirar o blog da dormência--espero voltar ainda este ano com os livros, discos e filmes de 2015):


  • O crescimento real do PIB nos 4 anos terminados em 2016 deve ser o pior para períodos similares desde 1932 (na esteira da Grande Depressão). Desde 1908, apenas em 4 ocasiões o PIB acumulado em 4 anos caiu:
  • Se de fato não houver recuperação até o final do ano que vem, a economia brasileira estará em recessão por 13 trimestres consecutivos. A trajetória é bem distinta de recessões seguidas de recuperação em "V" (como Argentina, depois da crise de 2001 e Coreia do Sul, depois da crise de 1997) e se parece bastante com a Espanha pós-crise de 2008. Se há algum consolo é que ainda passamos longe da queda livre pela qual a Grécia passou. A comparação negativa é que a Argentina se recuperou de uma queda brutal no PIB (mais de 16%) mais rapidamente do que estamos nos recuperando. Nessa comparação, o choque sai-se melhor do que o gradualismo negacionista.

Com este desempenho, a recessão atual não encontra paralelo na história do Brasil Republicano. Entre 2014 e 2016, o PIB terá recuado mais de 6%, quase 2% abaixo do observado na recessão mais severa até então — a da crise de 1929. O pior, no entanto, é o que segue: a retomada, segundo a projeção de consenso, será muito mais lenta do que em qualquer episódio de recessão no Brasil, bem mais letárgica do que a retomada pós-Plano Collor, de 1990.



  • Por fim: os incumbentes brasileiros não costumam se sair bem em períodos de forte queda no crescimento (se meu professor de econometria ler isso, pega um avião pra me dar uns cascudos pela sugestão grosseira de causalidade--mas a ideia é só mostrar a coincidência).