quarta-feira, 24 de julho de 2013

Uma piada e um estudo sobre sorte & carreira

A piada velha é a seguinte (estou transcrevendo de orelha e sou péssimo para contar piadas, portanto não estranhem se não acharem graça nenhuma): um chefe abriu uma vaga, e recebeu 500 candidaturas. Seu assistente chegou com a pilha de currículos impressos. O chefe olhou para a pilha, separou meia dúzia aleatoriamente e mandou jogar os outros no lixo, respondendo ao assistente, que não estava entendendo o método: "não preciso de gente sem sorte aqui". Corta para o mundo real, estudo citado nesse ótimo post do Free Exchange:

in which they applied for 3,000 clerical, administrative, sales and customer-service jobs advertised online by submitting 12,000 fictitious cvs. The submissions were designed so that applicants with similar backgrounds, education and experience went for the same job. The only difference was how long the applicant had been jobless, a period that ranged from no time at all to as much as 36 months…They found that the odds of an applicant being called back by an employer declined steadily as the duration of unemployment rose, from 7.4% after one month without work down to 4-5% at the eight-month mark, where the call-back rate stabilised. 
The design and results of the experiment excluded three common explanations for why the long-term unemployed stay that way; that employers spot some qualitative flaw in the applicant’s resume; that the unemployed themselves search less energetically as unemployment lengthens; or that employers equate lengthening unemployment with atrophying skills:
These results strongly suggest that long-term unemployment is at least partly self-fulfilling. Like patrons who avoid restaurants purely because they are empty, employers were reluctant to hire someone other employers didn’t want. 
If their inference is correct, the implication is troubling: someone who ends up unemployed through bad luck, and for some idiosyncratic reason doesn’t quickly land a job, finds his chances of reemployment diminish until he’s part of the long-term unemployed.

Já fui grande fã de meritocracia (ao ponto babaca de ter, por um tempo, parado de desejar "boa sorte" aos amigos que iam fazer alguma prova, entrevista de emprego ou similar), por achar que, ao longo da vida e da carreira, de fato os melhores acabavam se destacando. Com o tempo, tanto por ler quanto por observar ao meu redor, fui mudando de opinião, ao ponto que hoje acho que o tal "mérito" só passa a valer cumpridas uma série de condições que têm muito mais a ver com o puro acaso do que qualquer outro indicador. Por conta disso, acho que duas tarefas muito nobres para economistas e outros cientistas sociais são (i) nivelar as condições de partida, para que a trajetória de vida não dependa tanto do acaso que determina onde, de que cor, gênero, etc, uma pessoa nasce e (ii) mostrar como a sorte é preponderante em vários aspectos e corrigir processos (como o de busca por emprego) de forma que os azarados tenham mais chances. Os trabalhos citados no Free Exchange são muito interessantes nesta linha.

23 comentários:

Anônimo disse...

te "denunciaram" no NYT:
http://www.nytimes.com/2013/07/23/world/americas/prices-fuel-outrage-in-brazil-home-of-the-30-cheese-pizza.html?pagewanted=all&_r=0

Anônimo disse...

Do seu último parágrafo, tem uma frase ali que dá para traduzir em "A meritocracia só funciona ao acaso" né?

Já deu no NY Times, agora tem que virar frasista.. haha

P. Crouch HKS disse...

Gostei do mea culpa no fim. Nesse tema, estou lendo esse livro do Christopher Hayes:

http://www.amazon.com/Twilight-Elites-America-After-Meritocracy/dp/0307720462/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1374704477&sr=1-1

Esse "desemprego estrutural" é uma das principais justificativas pra política macroecônomica ativa (uma delas). Isso já vem da literatura de histerese do Blanchard, mas o velho Keynes já deu a dica quando falou que estamos todos mortos no longo prazo. Como sempre tá tudo lá no Maynard, haha

Drunkeynesian disse...

Acho que já tinham me indicado esse livro uma vez aqui... é bom?

Anônimo disse...

É ok, vamos ver se melhora mais pra frente O que eu recomendo muito é esse debate do autor com o editor da The Atlantic:

http://video.mit.edu/watch/chris-hayes-and-ta-nahisi-coates-election-year-2012-and-the-twilight-of-the-elites-13150/

victor (@PANFLECONOMICS) disse...

O Leonard Mlodinow no livro O Andar do Bêbado, aborda esta questão da aleatoridade como fonte de sucesso. Ele conta por exemplo que o John Grisham teve o manuscrito do seu livro Tempo de Matar, rejeitado por 26 editores, Harry Porter da J.K. Rowlings foi rejeitado por 9. Imagine quantos escritores talentosos não são conhecidos porque desiste depois da 5ª ?
Um outro ponto é que é complicado estabelecer a causa clara do êxito (que nem sempre é fácil), e neste contexto muitos embusteiros rogam para si uma autoria que ou é obra de terceiro ou é obra do puro acaso.

Jorge Browne disse...

DK, também já acreditei que os melhores acabam se destacando mais cedo ou mais tarde. Pfui... Atualmente acho meritocracia totalmente secundária.

A "equação" favorita do Kahneman é:

sucesso = talento + sorte

grande sucesso = um pouco mais de talento + muita sorte

Anônimo disse...

Woody Allen já dizia
"80% of sucess is just showing up..."

se você faz algo em uma área em que as coisas acontecem, com uma certa persistência, eventualmente você vai ter sorte...

Anônimo disse...

Na verdade essa ideia de que a meritocracia não existe na prática significa que nivelar as condições de partida ainda é pouco pra gerar "justiça social" num sentido amplo (não sei se é o termo correto)... pra amenizar essa "loteria" da vida, também é válido garantir condições de chegada semelhantes, até certo ponto... ou seja, redistribuição.

Algum autor de teoria da justiça discute essa questão da imensa relevância do acaso na determinação das condições de vida e as consequências disso, mas não é meu campo e faz tempo que dei uma olhada nisso, não recordo quase nada.

Anônimo disse...

Agora, pra mim sempre foi bem claro: a meritocracia como argumento MORAL é um completo engodo. Pra aceitar a moral meritocrática precisa pelo menos aceitar junto toda moral Protestante e a ideia de propósito em todas as coisas e etc.

A validade dela é meramente utilitária, como geradora de incentivos, e deve ser medida em relação aos objetivos da sociedade e contra outras formas de incentivo.

Jorge Browne disse...

Anon 11:36, assunto interessante mesmo. Como é impossível definir o que é esforço/talento do indíviduo e o que está fora do seu controle, fica a ideia de que se deve equalizar fins básicos e oportunidades.

Anônimo disse...

Drunk, nesta senda vais acabar questionando também a democracia representativa e as frustrações do mundo imperfeito. Acho que estás na deprê com o título do Galo, pois agora não és mais campeão da Libertadores. Fica frio, eles vão tomar um pau histórico contra o Bayern.
Dantas

Anônimo disse...

E se um cara fica rico por causa do talento e da inteligência com as quais nasceu, pois deu SORTE de ter determinados genes?

Anônimo disse...

Esse resultado é conhecido na literatura de histerese no desemprego lá dos anos 1980, especialmente conhecida pelos trabalhos de Blanchard.

E há racionalidade no comportamento do empregador. Por exemplo, quanto mais tempo desempregado, maior a "depreciação" do capital humano do cara, e maior o custo com treinamento.

Tem também algumas pesquisas nesse aspecto de sorte no mercado de trabalho, mostrando que o networking é até mais importante que a competência estrita. Mas esses eu só conheço de ouvir dizer.

Anônimo disse...

Voce já deve ter visto. No entanto, acho que vale a pena compartilhar.

http://vimeo.com/67523271

Anônimo disse...

Interessante que esse video do Bernanke faz referencia ao paper do Dani Roddrick (Abril/13) que voce postou semana passada.

Anônimo disse...

Ah os genes, embora o genótipo seja questão de sorte também, o sucesso não depende apenas de inteligência, a importância de eventos aleatórios é brutal.
Nem todo mundo fica confortável com as implicações disso, mas...

J.Browne

Borboletão disse...

Diálogo superficial. Antes mesmo de adentrar na explicação do sucesso, as definições de talento e sorte deveriam ser debatidas...

Infelizmente, quase todos aqui, se pautando de "axiomas" balizaram suas opiniões.

PJ, largue de ser borboletão, e queima essa massa encefálica um pouco...

Abraços!

Anônimo disse...

Vocês complicam o simples

A estatística desse caso agrega pessoas supostamente iguais, porém com diversidade de aspectos difíceis de medir, a competência não é a mesma.

Quem não foi capaz de arrumar emprego em 10 mês, ´provavelmente tem menos qualidade do quem não acha emprego a 1 semana.

o Empregador está apenas percebendo o que a estatística deixou passar

Anônimo disse...

http://aconscienciadetresliberais.blogspot.com.br/2013/07/saiu-no-qje.html

o carlos eduardo gonçalves fez uma ótima interpretação

Anônimo disse...

trabalho a um bom tempo no mercado financeiro e juro que o que mais vi ateh hoje e sorte: Ja vi trader ganhando com cambio sem ao menos saber como funcionava direito uma banda cambial. Ja vi sales fazendo grana e o chefe aparecendo na foto. Ja vi puxa saco vender bem seu peixe e todo mundo ainda acha que o cara eh fazedor (ele fazia menos que o estagiario da area ao lado. Ja vi gente pulando de banco em banco soh vendendo a imagem. Depois de ler Kahnmean de fato entendi um pouco melhor essa questao.

Madoff disse...

Jurava que era o próprio Drunk, o Anom acima...


Também poderia ser eu...

Mauro Beltrão Filho disse...

Muito bom. O tema lembrou-me uma boa palestra, que eu recomendo:

http://www.ted.com/talks/alain_de_botton_a_kinder_gentler_philosophy_of_success.html