terça-feira, 30 de outubro de 2012

Conheça Christopher Cole

Se você acompanha mercados financeiros globais e tem alguma familiaridade com o conceito de volatilidade e afins (elementos na intersecção desse conjunto com o de leitores do blog: aproximadamente 2), não deixe de conhecer o trabalho de Christopher Cole. Cole passou anos na Merrill Lynch estruturando transações com derivativos e dívida, e hoje dirige a Artemis Capital Management, gestora independente focada em operações que envolvem opções e outros derivativos.

Cole é o "pensador" de mercados mais original que conheci desde Hugh Hendry - daqueles caras de cujas conclusões pode-se concordar ou discordar, mas geralmente vai trazer um jeito diferente de olhar para as coisas. Os relatórios dele (o mais recente aqui) são recheados de muitos dados não-triviais derivados de preços de mercado e referências à arte. Ele é o tipo do cara que paga um artista para fazer uma versão alusiva a economia dos nossos tempos do famoso Waterfall, de M. C. Escher (para ele, o capitalismo de hoje também é um objeto impossível - e essa ilustração daria uma bela capa de livro):


Outra sacada artística muito bacana foi essa representação das economias do mundo como barcos, entre o fogo da inflação e o abismo da deflação - a manobra para escapar de um extremo pode levar a outro (notem onde está a nau brasileira):


No início do ano, ele tinha produzido esse vídeo, ilustrando os diferentes regimes de volatilidade das ações americanas nas últimas duas décadas:



Ele também é bom de frases. Do último relatório que ele escreveu:
A "black swan" is not dying because your parachute didn't open while skydiving... it is dying because the guy whose parachute didn't open landed on you while you were golfing.
E uma que pesquei de orelha numa conferência em que fui e ele estava falando:
Acreditar que é impossível um governo calotar a dívida interna porque sempre pode emitir moeda para pagar é o mesmo que acreditar que sua casa nunca pode ser vítima de um roubo, porque sempre há a opção de atear fogo na casa com tudo dentro.
Enfim: acompanhem o cara, tem valido a pena.

20 comentários:

Adam Victor Nazareth Brandizzi disse...

Olá!

Rapaz, parece um cara muito legal de acompanhar! Infelizmente, meu conhecimento parco me impedirá: não vou entender a maior parte do que ele fala... Mas vou tomá-lo como motivação para aprender mais sobre sua área.

Até!

Drunkeynesian disse...

Tem uma meia dúzia de nomes esotéricos, mas nada que quem tenha estudado um pouco de estatística não consiga entender em pouco tempo.

Anônimo disse...

Valeu a pena ter ficado um tempo sem um novo post de economia aqui, Parabéns!

Drunkeynesian disse...

Parabéns pro Cole, eu só copiei as ideias dele :P

Anônimo disse...

O intermédio ja vale haha, eu não teria acesso se não fosse por aqui, esse é um do papéis de um blog afinal, abraço.

João Marcus disse...

DK
Me senti livre para reproduzir a fantástica imagem da economia mundial.
Abraço
JM

Anônimo disse...

"Acreditar que é impossível um governo calotar a dívida interna porque sempre pode emitir moeda para pagar é o mesmo que acreditar que sua casa nunca pode ser vítima de um roubo, porque sempre há a opção de atear fogo na casa com tudo dentro."

Os irmãos Law (John e Bernanke) não corcondam com isso eu acho...

Rafael disse...

Muito bom esse relatório que você linkou.
O cara é fera!

B.C. disse...

Mas...mesmo VOV é um reflexo do mercado, o volga ou variance swap representado. O mercado precifica Israel x Iran ou desaceleração chinesa, muito ou pouco errado (who knows, who cares?). A segunda derivada disso também é parte das sombras na caverna, é como se as sombras fizessem mais sombras, infinitamente (é a convexidade da convexidade da convexidade...). O ápice do futuro de VVIX no fiscal cliff não parece óbvio num mercado com-vontade-de-ser eficiente?

Acredito que o autor deveria ir além analisando a vol-of-vol-of-vol, grega conhecida como ULTIMA (thank God!). Teria o mesmo comportamento do futuro de VVIX? Acredito que sim.

Daí surge uma ampla questão: considerando a teoria dos mercados eficientes, até que profundidade analisaríamos os indicadores de mercado?

Acredito que os BCs, diferente da Inglaterracon ajuda do Soros em 92, não serão devorados pelo mercado pois um possível default provocaria mudanças drásticas nas relações entre os países. O mercado sempre é avesso à volatilidade e paga altos prêmios para mitigá-la (QE^n, etc), mesmo que o risco não possa ser assim mitigado.

Mesmo com o mercado conhecedor de suas posições (dos BCs) e estimador de suas bazookas não seria o mesmo que esquartejar e se alimentar como fizeram com o LTCM em 98 e com o JP e sua Baleia de Londres nos últimos meses...

Drunkeynesian disse...

A loucura com as derivadas pode ser infinita... mas acho que o interesse desse tipo de cara é restrito ao que ele consegue operar.

A derrota dos BCs atuais, considerando o tamanho das posições, implicaria em uma crise muito profunda, difícil imaginar as consequências e os possíveis vencedores. A ideia que gosto (também do Cole) é comprar proteção para o outro tail, o da inflação, que é subestimado.

Anônimo disse...

Estou no meio da leitura do relatório (aprendendo mais que entendendo). No entanto, concordo com a idéia geral de supervalorizaçao geral de ativos a partir da política monetária e, como o autor, desconfio da eficácia de novas emissões e mesmo da certeza de que tudo isso vá acabar bem. Há uma questão de falta de demanda subjacente não resolvida. Palpite!

Valeu pela indicação!

Anônimo disse...

Como tem mistificador e picareta no mundo-- e gente pra engolir as mistificacoes!

Drunkeynesian disse...

Elabore, anon...

Anônimo disse...

O texto inteiro é uma barafunda conceitual, pretensiosa e rasa. Baudrillard, Alegoria da Caverna, "simulacro de realidade", "objetos impossíveis", Escher-- parece algo cuspido por um gerador aleatório de ensaios pós-modernos. O sujeito arrota teoria financeira com fartas doses de pseudo-filosofia, mas fica evidente que tem pouca familiaridade com o assunto.

Shall I count the ways? Pinçando, aleatoriamente, do texto:

"You didn’t get your MBA to be an amateur philosopher - your job is to make cold-hard decisions about real money - not read Plato. You are out of luck. For the next decade this market is going to reward philosophers over students of business."

Ha! Quem me dera. Eu tenho MBA e, nas horas vagas, leio Platao e Heidegger. E daí. Seria um tolo se achasse que quaisquer desses atributos me qualificassem a fazer "cold-hard decisions about real money". Assim como teoria macroeconômica foi, há muito, desmoralizada como ferramenta para operar nos mercados (entre outros, por Taleb), é lugar comum o fato de que MBAs não passam de agências de emprego glorificadas (hoje, talvez nem isso). Os altos sacerdotes das finanças não são MBAs, mas PhDs em fisica, computacao, etc. Em que mundo esse cara vive?...

Anônimo disse...

...
"Modern financial markets are a game of impossible objects. In a world where global central banks manipulate the cost of risk the mechanics of price discovery have disengaged from reality resulting in paradoxical expressions of value that should not exist according to efficient market theory."

Não contente com obfuscação pseudo-filosófica, o autor começa atolar tambem em teoria financeira. EMH diz apenas que os agentes incorporam as informacoes disponíveis nos precos, mais ou menos instantaneamente. Nada sobre "paradoxalidade do valor" (aliás, EMH é uma dos princípios mais mal compreendidos da moderna teoria financeira: informações são incorporadas ao preço instantaneamente; isso não garante que os preços sejam "corretos", seja lá o que isso signifique)

"Information becomes trapped in a self-reflexive cycle whereby the market is a mirror unto itself. Lack of randomness ironically leads to chaos. I believe this is what George Soros refers to as "reflexivity". The impossible object is a visual example of reflexivity."

Ai, ai, ai. Mais mistificação. "Reflexifidade", outra platitude pretensiosa, é apenas o velho conceito de realimentação, conhecido de qualquer estudante de engenharia. Preços influenciam percepções, que influenciam preços. Duh. Nao era um grande insight sequer há 30 anos, quando Soros cunhou o termo. Lack of randomness? Diga isso aos incontáveis hedge-funds que fecharam as portas nos últimos anos porque não conseguem gerar retornos excedentes.

"Third and fourth dimension markets (like volatility and vol-of-vol)"

O que quer dizer mercado de terceira e quarta dimensao? Adiante, ele fala em "fourth dimension derivative". Estará o autor se referindo a momentos da distribuição? Who knows, nem ele.

"measuring the risk to reward of a volatility short position is often a complex endeavor involving greeks like gammas, vegas, volgas, and vanna whites"

A frase acima parece escrita por alguem recém introduzido a teoria de opções, ainda perplexo e deslumbrado. Para quem entende um pouquinho do assunto, esses conceitos nada têm de esotéricos. Aliás, o autor trai sua falta de familiaridade com tema ao misturar "gamma" (segunda derivada do preço da opcao com respeito ao preco do ativo) com "vega", "volga" e "vanna" (derivadas em relação a vol) Tecnicamente, sao todas gregas, mas de natureza bem diferentes. Parafraseando, gamma aleija mas nao mata. Volga e vanna, dependendo da severidade de "unknown unknowns", matam-- que é o ponto dele.

"That is the logical equivalent of saying my house will never be burglarized because if someone tried to break in I could just light it on fire."

Olha ai sua frase...

Parei de ler no quarto ou quinto parágrafo, só passando olhos superficialmente depois disso. Muita pretensão e pouco conteúdo pro meu gosto. Nesses temas de cisnes negros, caudas grossas e filósofos gregos, melhor ficar com Taleb (que pelo menos manja de opções e abomina mistificação).

Jorge Larangeira

Drunkeynesian disse...

Obrigado pelos pontos, tem bastante coisa a ser discutida. Ainda assim, mesmo considerando os eventuais floreios na linguagem, acho que ele tem algo a dizer sobre um mundo onde a maioria dos preços são distorcidos por um player enorme e não sensível a retorno (os BCs).

"Gamma aleija mas não mata" - tenho a impressão oposta, mas é outra grande discussão.


Anônimo disse...

Gamma eh um fenomeno local, que aparece em torno do strike e perto do vencimento. Grandes movimentos ou vencimentos proximo do strike podem causar estragos se voce estiver short gamma mas, longe do strike ou passado o vencimento, o gamma some. O problema eh convexidade de opcoes fora do dinheiro-- os pozinhos que, num ambiente de baixa vol, ficam dormentes, quase esquecidos no livro e explodem quando a volatilidade da um salto. Pergunte a Votorantim, Sadia, et al. A proposito, parabens pelo blog sempre informativo e interessante. Certa vez googleei atras de um artigo antigo do Andre Lara Resende sobre Richard Feynman. Nao encontrei o artigo mas cai aqui. Tenho sido um frequentador ocasional desde entao.

Drunkeynesian disse...

Obrigado... apareça sempre! E não sei desse artigo do Lara Resende sobre o Feynman...

Anônimo disse...

Eu não tenho conhecimento para avaliar as opiniões acima colocadas porque todo mundo sabe mais do que eu! Mas eu gostaria de ter uma boa avaliação do impacto que as políticas monetárias tiveram nos preços dos ativos em geral. Além disso, gostaria de saber que bicho vai dar quando os bancos centrais resolverem enxugar a economia.

Se alguém tiver uma dica, pleeaaassseee!!!!!

Drunkeynesian disse...

Eu também gostaria de saber...