terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Adeus, 2011

2011 foi um ano difícil para este escriba, mas aqui não é lugar pra se queixar disso. Para o blog, foi muito bom: a média mensal do número de visitas quase triplicou, aumentaram muito os comentários nos posts, surgiram algumas discussões boas e, sobretudo, aprendi bastante escrevendo, pesquisando e debatendo. Nada a reclamar daqui, só a agradecer pelos interlocutores.

Quem acompanhou este espaço durante o ano possivelmente notou um tom meio pessimista e desiludido com os tempos atuais. Para fazer um contraponto, gostaria de terminar 2011 com uma reflexão capenga mais para o lado Dr Pangloss: o Amartya Sen usa, como exemplo para ilustrar um ideal de igualdade (agora não lembro se a ideia original é dele ou copiada do John Rawls e estou sem o livro pra consultar), a seguinte situação: uma pessoa que ainda não veio ao mundo pode eleger onde vai nascer. Hoje, evidentemente, ela preferiria nascer na Escandinávia do que no Chifre da África; no mundo ideal, qualquer lugar ofereceria as condições básicas para que a pessoa conseguisse virar um adulto livre, capaz de fazer escolhas. Se mudarmos a variável de escolha de geografia para tempo, tenho pouca dúvida que os dias atuais seriam os preferidos (se você, como eu, já pensou que queria ter vivido no final dos anos 60, pense que poderia ter nascido não na Califórnia ou em Londres, mas em Biafra ou no Vietnã do Norte; e por aí vão os contra-argumentos). Na média, creio que em nenhum outro período da história a humanidade ofereceu tão amplamente as tais condições básicas para a liberdade, e creio que os problemas que enfrentamos hoje são quase todos no sentido de manter essa relativa prosperidade, estendê-la para mais pessoas e fazer com que ela seja reproduzível para as gerações futuras. Não é fácil, evidentemente, mas, olhando para o passado (quase qualquer deles) repleto de privações, é difícil não nos sentirmos privilegiados (mais ainda se você está lendo isso, o que quer dizer que sobreviveu por uns bons anos, é alfabetizado, sabe usar computador, tem acesso a internet, etc).

Uma ótima passagem de ano e um grande 2012 a todos. Saúde!



17 comentários:

Pedro Din disse...

Cheers! Obrigado pelo conhecimento compartilhado.

Que venha 2012.

Moska disse...

Para você que é um devorador de livros sugiro o "The Rational Optimist - Matt Ridley". Tem tudo a ver com esse post.

Abcs e até 2012

Chamati disse...

Valeu! Que venha 2012!
Abs!

André disse...

Comecei a ler seu blog agora no fim de 2011. Gostei bastante e este último post do ano atual (com citação ao glorioso Sen) mostrou a qualidade dos escritos aqui produzidos. Continue assim em 2012. Feliz Ano Novo, meu caro.

M. disse...

Com relação a melhores tempo para nascer também estava pensando sobre isso hoje, só que os meus pensamentos foram mais polêmicos.
Imagine como era viver na Idade Média, a vida hoje é muito melhor, até mesmo para os mais pobres e se alguém vier falar de Africa terei que lembrar que o número de miseráveis hoje é muito menor.Agora entra a polêmica. O que melhorou a qualidade de vida foi a Ciência e a produtividade,não foi a caridade. Nessa época do ano aumenta o moralismo e a hipocrisia e os apelos para caridade, fraternidade, se por no lugar dos outros...
Definitivamente, no longo prazo a caridade não agrega nada, podendo inclusive desviar recursos que seriam mais eficientes em outras áreas.
São 3 motivos que levam a caridade:
(i) Necessidade de melhorar a imagem(empresas,artistas...)
(ii) Superego inflado, consciência pesada, remorso, esses encontram alívio na caridade.
(iii) Pessoas fracas e medíocres que não conseguem se destacar no meio de pessoas mais desenvolvidas, essas procuram a companhia de pessoas medíocres unicamente para s e sentirem superiores.
O desse tipo de pessoas é que sempre chegam a uma conclusão, ''o capitalismo é perverso e está destruindo a humanidade''.
Não é a caridade, e sim os eficientes que irão salvar o mundo;O homem é um animal político, é participando da vida social e fazendo um bom trabalho que melhoraremos o mundo.
A única exceção que faço é para doações que visem investimento em educação.
Desculpe-me o tamanho do comentário, e só tenho a agradecer ao blog, excelente!
Um excelente ano novo a todos.

Danilo Balu disse...

Parabéns! Que venha 2012!!

JGould disse...

"É bom ler e é ótimo ter lido" Carlos Drummond de Andrade

Um Feliz 2012!!!

Abs

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog!

Esse pequeno mas grande texto do Keynes tem algo a ver com o post, então deixo aqui pra lerem:

http://www.econ.yale.edu/smith/econ116a/keynes1.pdf

"The prevailing world depression, the enormous anomaly of unemployment in a
world full of wants, the disastrous mistakes we have made, blind us to what is
going on under the surface to the true interpretation. of the trend of things. For
I predict that both of the two opposed errors of pessimism which now make so
much noise in the world will be proved wrong in our own time-the pessimism
of the revolutionaries who think that things are so bad that nothing can save us
but violent change, and the pessimism of the reactionaries who consider the
balance of our economic and social life so precarious that we must risk no
experiments."

Fernando A. disse...

Tenho dois comentários. Um é que os saudosistas sempre citam o meio campo do Bangu ("Chiclete, Pincel e Fubá") como muito melhor que todos os de hoje em dia, numa óbvia perda de memória, pois os atletas de hoje em todas as áreas são muito mais habilidosos e fortes. A vida hoje em geral é muito melhor também que a de "ontem" mesmo.
O contraponto, lido em algum livro que não me recordo, é que os índios que "buscavam" comida nas florestas eram muito mais livres, comiam melhor, tinham mais saúde, tinham mais tempo de lazer do que os homens que passaram a viver em aglomerações, agricultura, pecuária. Essas aglomerações criaram reis, deuses, presidentes e exigiram muito mais horas de trabalho, condições piores de vida de maneira geral. Mas eles tinham proteção contra invasores, que escravizavam os homens e estupravam as mulheres. Quem mandava bem não era o povo mais produtivo e sim do mais guerreiro. A qualidade de vida piorou pro séculos.
Grande abraço e ótimo 2012!

Anônimo disse...

Parabéns pelo Blog. Mostra que uma pessoa pode trabalhar no mercado financeiro e pensar mais abrangente. Caso raro.
Abs

Gustavo disse...

Kra, voltei a ler seu blog após 3 meses, final de ano foi complicado aqui. Realmente mto bom seu blog. Por favor, continue assim e não se limite ao twitter. Abs e um 2012 melhor que 2011

Drunkeynesian disse...

Muito obrigado pelas palavras de apoio e comentários.

Gostaria de ouvir o Soneca, quando aparecer por aqui, sobre o comentário do M.

E vamos pra 2012, que é o que nos resta.

Rodrigo, o Soneca, Pontes disse...

Sobre o comentário do M:

Existem duas premissas que ele usa, que mostra que ele vive um paradigma tão diferente do meu, que nenhum debate engrandecedor pode surgir aqui. Respondo apenas porque pediram.
As duas premissas é que i) existem pessoas melhores que as outras - fora o absurdo da inerente conclusão que doadores(ricos?) vivem entre pessoas "melhores" e os que recebem ajuda são pessoas "piores". Se ele pensa mesmo assim, sugiro que leia, por exemplo, o que Amartya Sen escreveu, não sou eu que vou querer convence-lo que o mundo não é plenamente governado pelo meritocracia como ele acredita.
Outra premissa errada é que quem faz caridade necessariamente acha que o capitalismo está destruindo a humanidade. O que é mentira, a começar por mim mesmo. Aliás, justamente o contrário, a pratica da filantropia só existe em governos capitalistas, onde a sociedade acredita que tem um papel proprio no bem-estar geral. Governos anti-capitalistas acham que o governo tem que cuidar de tudo: desenvolvimento economico E bem-estar social. Acho estranha a ideia que um individuo na sociedade deve ter a liberdade de empreender seu negocio e investir seu dinheiro e trabalho para ganhos economicos pessoais, mas deve ser execrado quando decide usar SEUS ativos para beneficiar outras pessoas.

Mas fora essas ideias que discordo totalmente, vou listar uns pontos que concordo antes: sentimento de culpa e vontade de aparecer são sim dois motivos fortes e muito frequentes para as pessoas doarem. Mas, em primeiro lugar, isso não afeta a validade da doação e, segundo, não são os ÚNICOS motivos possíveis (além do motivo iii) que ele cita que é tão bizarro que não vale a pena citar).
Por exemplo, ele coloca todo o progresso da humanidade no mérito da ciência. Então, não acho que vou muito longe ao assumir que a vaidade entre cientistas é muito relevante. Cientistas fazem pesquisa por dinheiro e por vaidade, existe muito jogo político entre ganhadores do prêmio Nobel, isso não faz que os resultados e benefícios destas pesquisas sejam anulados. A vaidade (e outro sentimentos considerados "menos nobres") é um motivador humano muito forte para TODAS as atividades. Não entendo porque essa vaidade anula o efeito da caridade, mas não afeta o efeito da pesquisa científica.
E assim como existem cientistas que fazem pesquisa pelo amor a ciencia, amor ao conhecimento, também existem pessoas caridosas que o são por amor à humanidade. Se o M. que ser cínico, que seja cínico em todos os casos, não apenas para o que lhe convém.
Claro que em muitas doações é dificil comprovar o benefício que houve de fato ao bem-estar social. Mas na ciencia também não é exatamente assim?! Dê uma olhada por temas de doutorados na USP e você não vê exatamente apenas pesquisas sobre a cura do cancer e alimentos mais eficientes.
Obviamente o M. tem algum problema pessoal contra a caridade, que provavelmente nem ele mesmo sabe definir qual é, e utiliza argumentos arbitrariamente para desqualificar, sem se preocupar em fazer algum sentido. É basicamente mais um troll da internet.
Outro ponto é que ele desqualifica tão brutalmente a caridade, mas logo em seguida faz a exceção para as doações voltadas para educação, justamente a grande maioria das doações no Brasil (bem mais da metade, sem contar as para igrejas, que são todo um outro tema).
Mas aposto que se o M. conhece-se mais sobre filantropia, certamente abriria muito mais exceções. A fundação do Bill Gates, por exemplo, faz doações impressionantes para, adivinhe, a ciência! Será que vai dar algum curto-circuito na cabeça do M. agora? Uma doação para pesquisa e aplicação cientifica voltada para erradicação da polio no mundo, achar uma vacina para malária. E as doações para micro-crédito, mecanismos capitalistas de desenvolvimento feitos através de, pasmem, caridade. Ele nem sabe direito o que está falando quando fala de caridade.

(continua no próximo comentário...)

Rodrigo, o Soneca, Pontes disse...

Independente disso, em minha opinião pessoal, mesmo as doações para assistencia social básica (ao que me parece é o que ele tem na cabeça quando fala de caridade) são benéficas.
A alocação de dinheiro pode não ser perfeita na caridade, mas assim como não o é na política, no investimento em pesquisas científicas, aposto que nem nas finanças pessoais do M. as suas escolhas de alocação são ideais (vide os diversos autores de economia comportamental). É muita birra querer desqualificar só a caridade por esse motivo.
Repito que só respondi porque me pediram explicitamente, porque o tal M. não tem argumento algum, só birra. Se outra pessoa estiver disposta a discutir seriamente os benefícios e malefícios (que sim, reconheço, existem) da caridade/filantropia, terei prazer, principalmente se puder aprender alguma coisa, que não é o caso do M.

Anônimo disse...

Só uma dúvida: as fundações que os Gates e Buffets da vida criam e doam quase 100% do patrimônio pós morte, não são quase que unicamente "jeitinho" pra fugir do pesadíssimo imposto sobre herança americano.

Só pra confirmar. Sempre achei que fosse.

Anônimo disse...

Faltou ima interrogação no final da primeira frase.

Rodrigo, o Soneca, Pontes disse...

Anônimo,
sem dúvida o imposto sobre herança é um incentivo à criação de grandes fundações, porém os termos "fugir do imposto" e "quase que unicamente jeitinho" são exagerados.
Nos exemplos citados, inclusive, as doações (e as incentivadas por Gates e Buffet no Giving Pledge) devem ser feitas em vida.
Outro ponto é que não é jeitinho, pois o dinheiro que vai pra fundação nunca mais pode retornar pro doador (ou qq herdeiro) e são rigidamente controladas pelo governo quanto às suas aplicações. Ou seja, se o cara tem 10 bilhões, ele pagaria 5 bilhões de imposto e os filhos ficariam com 5 bilhões.
Se o cara cria uma fundação com 40% do seu dinheiro (e nos casos acima este valor é bem acima dos 90%), então ele vai doar 4 bilhoes, ficar com outros 6 bilhoes. Estes 6 bilhoes serão taxados em 50%, ficando 3 bi com o governo e 3 bi com os filhos (e os outros 4 bi que só podem ser usados para fins filantropicos).
Ou seja, quanto mais você doa, menos dinheiro fica para os filhos, é fato. Não dá para "fugir" do imposto, pq o cara vai ter que patrocinar obras sociais com aquele dinheiro e não pagar a conta do próprio jatinho.
O incentivo é que o cara prefere manter o poder/status/fama de ser um filantropo com muito dinheiro, do que esse dinheiro ficar com o governo. Mas isso não quer dizer que é o único motivo (nem perto disso) e nem que ele está fugindo do imposto. Esses caras ficariam com bem mais dinheiro sem fundação nenhuma e pagando o imposto sobre tudo.
Outro incentivo que não é o "bem da humanidade", mas não menos nobre, é a educação dos filhos. Quase todos esses bilionários (americanos) argumentam que deixar um filho com 20 e poucos anos e U$ 10 bi na conta não é o ideal para sua formação. Melhor deixar "só" uns U$ 100mi.
Outro incentivo é a pressão social da cultura americana para que o cara doe (muitas matérias americanas sobre a morte do Steve Jobs levantaram este ponto que ele nunca fez filantropia relevante - ao menos publicamente).
Esses incentivos comportamentais contam bem mais que a "fuga do imposto". E eu não descarto o sincero interesse em fazer o bem à humanidade como forte motivador, não sou tão cínico assim. Acho que são pessoas que querem fazer um trabalho sério de melhorar o bem-estar da sociedade.