quarta-feira, 27 de julho de 2011

Passadas algumas horas - o impacto das novas medidas do câmbio

Hoje foi daqueles dias para pensar um pouco na vida e, no meu caso, dar graças aos céus por não trabalhar mais no sell side e ter que gastar o inglês para explicar aos clientes estrangeiros o que é quase inexplicável. O desenrolar das medidas anunciadas de manhã para o câmbio está sendo digno de enredo de filme dos irmãos Marx: os personagens entram e saem freneticamente e só geram confusão. Até agora, ninguém ainda conseguiu esclarecer:

- Como o CMN vai fazer o cálculo da exposição cambial líquida dos agentes? Em muitos casos (sobretudo para bancos estrangeiros, que descasam os balanços para dar liquidez a clientes externos), os contratos registrados na BM&F e na CETIP são apenas uma ponta da exposição, que é compensada por outras operações no exterior nos mais diversos instrumentos.

- Como o imposto vai ser cobrado? Com base em qual exposição: do final do dia, da semana, mês, trimestre, ciclo de Saturno?

- O que vai ser considerado como derivativo - só contratos da BM&F? Adiantamentos de contratos de comércio exterior? Termos?

- O que acontece com exposições em derivativos de outras moedas que não o dólar? É perfeitamente possível montar posições de carry trade em reais contra outras moedas que pagam juros baixos, como o euro e o iene.

- Como os investidores vão lidar com o poder que foi concedido ao CMN? Quem tem posições em derivativos no Brasil vai ter que conviver com uma espada de Dâmocles sobre sua cabeça: do dia para a noite pode aparecer um imposto absurdo sobre um valor nocional que muitas vezes tem pouco a ver com intenção ou tamanho da especulação.

Minha opinião definitiva (ô pretensão) sobre o assunto segue a mesma deste texto, de março. Tentar PMDBizar a questão do câmbio (sem escolher nenhum lado e agindo como se fosse possível ter uma taxa que ao mesmo tempo ajude na inflação e não desagrade o empresariado, uma conta de capital aberta com uma postura hostil para parte dos investimentos, uma percepção de que poupança externa é desejável mas não pode entrar quando quiser, juros totalmente desalinhados com o resto do mundo e ausência de especulação em cima disso) culminou com a situação grotesca de hoje. Cada vez mais as medidas parecem totalmente arbitrárias, e cada vez são maiores e mais danosas as consequências não previstas. É hora dos economistas do Planalto decidirem para qual direção queremos seguir.

2 comentários:

fabio disse...

"se você não está confuso é que não está prestando atenção."

Krugman (recentemente comentando sobre a negociacao da divida grega)

Drunkeynesian disse...

Deve ter pensado na frase do Bohr:

"Anyone who is not shocked by quantum theory has not understood it."