quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Festival de deseducação financeira

Hoje, vendo a Bovespa fechar na máxima do ano e lambendo minhas feridas de pessimista, parei alguns minutos para assistir a alguns vídeos do UOL Economia. Eu sei que a essa altura eu já não deveria, mas não canso de me chocar com o baixo nível dos nossos "especialistas" -- e, neste caso, não estou falando dos jornalistas, mas sim dos convidados que se propõe a tirar dúvidas do público em geral.

No menu do dia temos:

- Um professor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV, supostamente um dos centros de excelência em economia e finanças do país, falando sobre "oportunidades e riscos de comprar ações durante um IPO". Para o professor, baseado em uma pesquisa americana, a estratégia "vencedora" é manifestar interesse de compra durante o período de reserva e vender logo na primeira semana de negociação -- estratégia conhecida como flipping. Não vi a pesquisa que o professor cita, nem quero ver. Mas o racional do flipping é a estratégia de investimentos conhecida como greater fool theory -- não importa o preço que você pague por um ativo, você sempre vai conseguir achar alguém mais idiota para comprá-lo de você a um preço mais alto. Uma variação é a slower fool theory, onde ganha quem conseguir vender mais rápido, antes de uma virada do mercado. Ambas. como boa parte das teorias em finanças, são válidas somente para mercados em alta (bull), onde, por definição, o preço amanhã (ou em t+1, para ser genérico) provavelmente será mais alto que hoje (t0). São receitas para perdas quando não se consegue encontrar o mais idiota ou o idiota mais lento (e, no mercado em queda, os idiotas desaparecem, provando não serem tão idiotas assim). Pensando de outra maneira, uma estratégia que parte do princípio que você é mais esperto que o resto do mercado é, no mínimo, exótica. Mas, voltando ao nosso professor, isso é o recomendável - vencedor, palavras dele. Essa linha de pensamento está formando profissionais que em breve, muito em breve, poderão cuidar do seu dinheiro. Tire suas próprias conclusões.

- Um sócio-diretor de uma provedora de serviços de investimento (que, texto retirado do site da empresa, com erro de ortografia incluso, "presa pela excelência no atendimento dos clientes") falando sobre o mercado de câmbio. Quando perguntado sobre as alternativas para se investir em moeda estrangeira, ele cita a opção de comprar, via Tesouro Direto, títulos públicos atrelados a variação cambial -- títulos que o Tesouro não emite desde 2002. Desnecessário comentar o restante do conteúdo da entrevista.

Esse é o portal de internet mais visitado do país. Esses são alguns dos profissionais do nosso mercado. Informe-se, e cuide bem do seu dinheiro.

Independência do Brasil

O presidente do Banco Central do Brasil filiou-se hoje ao PMDB, com a possível intenção de se candidatar a vice-presidente na chapa de dona Dilma. Alguém ainda acha que temos um banco central independente? Incrível também notar onde os tentáculos do lulismo (ou do PMDBismo, ou do comodismo) já chegaram...

Mais no UOL.

Gráfico do dia - seguro desemprego

Está na The Economist desta semana: os noruegueses recebem mais de 70% da renda no emprego anterior como seguro desemprego -- fração que se mantem até cinco anos após a demissão! Isso que é estado paternalista... Ah, nem por isso as finanças do governo por lá são desordenadas: o país mantem um superávit fiscal de quase 10% do PIB. A rara combinação de receitas do petróleo bem administradas + população pequena + desemprego baixo produz esses milagres.


Férias em tempos de crise

Dilbert.com

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Academia e mercado financeiro: novas fronteiras

A capa do caderno de finanças pessoais do Valor de hoje traz os resultados da pesquisa conjunta de um professor do Insper (antigo Ibmec) e um do ITA. Eles criaram, com base em um modelo originalmente desenhado para prever terremotos, um indicador de "crash" para as bolsas dos EUA e do Brasil. Por esse indicador, estamos perigosamente perto de uma reversão na alta dos últimos meses.

Sem entrar em considerações sobre a qualidade ou precisão do modelo*, acho que esse tipo de trabalho mostra dois aspectos positivos da pesquisa que parece estar emergindo sobre mercado financeiro: primeiro, a pesquisa é baseada em dados, e não em premissas do tipo "assumimos que os mercados são arbitrados em tempo contínuo e que os custos de transação são inexistentes". Esse tipo de modelo tenta observar padrões que se repetiram em informações reais -- algo parecido com o que é feito em ciências. O modelo só é bom até que se prove errado, aí é substituído por um melhor. Valoriza a humildade. Segundo, as finanças parecem estar aprendendo com outros ramos do conhecimento. Essa tendência já é presente no mercado de trabalho, que há anos vai atrás de físicos, engenheiros, psicólogos, etc., e aparentemente está começando a ganhar força na academia. Novamente, mais humildade para um campo tão prejudicado pela arrogância.

* O Instituto de Tecnologia de Zurique conta com um grupo de estudos que segue uma linha parecida. Eles têm tentado desenvolver modelos que indicam quando uma bolha está próxima a estourar. A última bolha identificada por eles está na bolsa de Xangai, com uma reversão prevista para o final de julho. Tem funcionado, até agora (ver o gráfico).



Homer Simpson e a história da ciência

"Here's to alcohol, the cause of—and solution to—all life's problems."
Homer Jay Simpson


O How the World Works lista as descobertas da ciência feitas por acaso, quando se estudava bebidas alcoólicas. A lista é muito interessante:

- A teoria estatística das pequenas amostras -- provando que, com uma pequena amostra, pode-se ter uma boa idéia das características de uma população, considerando uma certa margem de erro e sabendo como a população se comporta -- foi desenvolvida e aperfeiçoada nas maltarias da Guinness. Por sinal, a cervejaria completou 250 anos no último dia 24;

- Joseph Priestley descobriu o gás carbônico enquanto fazia cerveja;

- Lavoisier teve a idéia do princípio da conservação de massa enquanto fermentava uvas para produzir vinho.

A história da Guinnes foi contada em uma apresentação para a conferência Beeronomics, realizada em maio, na -- adivinhem -- Bélgica. Saúde!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

It was 40 years ago today...

Na verdade, o aniversário foi no sábado. Fica aqui minha humilde homenagem atrasada ao trabalho que define o conceito de "parar no auge".

O poder dos blogs financeiros

A revista New York traz uma matéria longa e interessante sobre como os blogs financeiros ganharam audiência e influência com a crise financeira, estudando o caso do Zero Hedge, um site que, com menos de um ano de existência, já virou referência para muita gente informada (e palco das mais variadas teorias conspiratórias, com diferentes graus de veracidade).

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Foto do ano (até agora)



Para entender o porquê, vá no Terra.

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Para saber o que é, clique aqui.

Fundos de pensão: licença para gastar

Há dois jeitos de ler a notícia que o CMN alterou os limites de exposição por instrumento aos quais os fundos de pensão estão sujeitos (a notícia aqui, veja no gráfico abaixo o que mudou). A primeira é que a notícia é positiva, vai incentivar os gestores a procurarem alternativas potencialmente mais lucrativas além de simplesmente aplicar em títulos do Tesouro, cuja rentabilidade caiu muito nos últimos anos (o que também ajudaria no financiamento de projetos da iniciativa privada). A outra, mais cética, é que agora aumenta o leque de possíveis favorecimentos e agrados que os fundos de pensão de estatais, dominados por "companheiros" que entendem tanto de investimento quanto uma garrafa térmica, podem fazer, para muita tristeza dos seus pensionistas. Escolha o seu.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nobel de economia - façam suas apostas

A Reuters aponta os favoritos. Da lista, eu só conheço o trabalho do John Taylor. Sou um picareta, mesmo.

O homem que derrotou Malthus

O obituário da última The Economist presta tributo a Norman Borlaug, o descendente de noruegueses que saiu de Iowa para revolucionar a agricultura no mundo. Vale ler (é uma página curta) e ver como o mundo precisa mais de pessoas práticas, como Borlaug, e menos de ambientalistas que, no pensamento dele, preferem salvar o ambiente a alimentar pobres.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Mais um show de dados, por Hans Rosling

Faça-se um favor e arrume 20 minutos para ver o vídeo abaixo, mais um do doutor Hans Rosling no TED. Nada como dados para destruir noções pré-concebidas: neste caso, a de que o mundo em desenvolvimento é uma massa homogênea de países e que políticas megalomaníacas são a solução para os males da pobreza. Inclui um singelo agradecimento aos contribuintes norte americanos -- e não é pela "salvação" do sistema financeiro. Repare também (no primeiro gráfico, aos 3min15s), na brutal queda da expectativa de vida na China durante o genial Grande Salto Adiante de Mao Tsé-Tung. De 1958 a 1960, caiu de 50 para 32 anos, nos lembrando de alguns dos riscos que a concentração de poder traz.




Agradeço ao Salgado pela dica -- e ficamos uns três e-mails chamando o cara de Nobling, tsc, tsc, tsc...

Comunicado do Fed e frase do dia - keep on dancing

“As long as the music is playing, you’ve got to get up and dance.”

Chuck Prince, ex-presidente do Citigroup

Do comunicado do Fed de hoje, acompanhando a decisão de política monetária que manteve os juros básicos a um teto de 0,25%:

"...economic conditions are likely to warrant exceptionally low levels of the federal funds rate for an extended period."

"...the Federal Reserve will purchase a total of $1.25 trillion of agency mortgage-backed securities and up to $200 billion of agency debt. The Committee will gradually slow the pace of these purchases in order to promote a smooth transition in markets and anticipates that they will be executed by the end of the first quarter of 2010."

Tradução para o bom Português: os mercados podem continuar inflando insanamente os preços de ativos, porque dinheiro não vai faltar. Em condições normais, eu arriscaria dizer que o sinal dado pela queda da bolsa após esse anúncio é um sinal muito perigoso, mas tenho estado errado tanto tempo com o meu pessimismo que vou ficar quieto. Ops... já falei!

Um cartaz motivacional para economistas

Via The Big Picture:



























Nuff said...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Moody's promove o Brasil a investment grade

Das três grandes agências de classificação de risco, era a única que ainda não havia colocado o crédito brasileiro nesse patamar. O press release está abaixo:

Moody's - Brazil Investment Grade

Vencedores e perdedores da crise

Matthew Lynn escreve na Bloomberg um texto interessante (embora com aquela visão americana que divide o mundo entre vencedores e perdedores) sobre o que emergiu da crise. Para ele, historiadores, hedge funds, a Alemanha, a direita e a frugalidade derrotaram, respectivamente, economistas, banqueiros, a Inglaterra, a esquerda e a extravagância.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Quando o mercado financeiro começa a olhar para a Coréia do Norte

A Goldman Sachs lançou um relatório explorando as possibilidades de ganhos com uma possível reunificação das Coréias. Com os mercados líquidos "normalizados", voltou a hora de explorar novas fronteiras. Eu não canso de me espantar.

Ainda no campo dos investimentos alternativos, quem comprou um título da dívida do Iraque na virada do ano está lucrando 78% em dólares. A taxa de retorno (yield to maturity) desses títulos é apenas 5% acima dos títulos do tesouro americano -- mais ou menos o mesmo prêmio que a dívida externa do Brasil estava pagando em outubro do ano passado. Mais espanto.

Estado grande: a volta do mamute (ou: o triunfo do lulismo)

Se me pedissem para destacar duas características (que não necessariamente são qualidades) do presidente Lula, eu diria: oportunismo e sorte. Outras podem ser mais marcantes e até definí-lo melhor, mas sem essas provavelmente ele estaria numa situação bastante diferente da que vive agora.

A sorte, como já falei aqui em outras oportunidades, foi a de ter governado o Brasil em uma conjuntura absolutamente favorável. Primeiro, foi eleito com o mercado financeiro no fundo do poço, com juros muito altos e preços de ativos bastante depreciados -- uma melhora desse ponto é mais provável e mais acentuada do que se tudo estivesse na calmaria. Depois, desfrutou de anos de alta em preços de commodities, e consequentes apreciação do câmbio, queda nos juros, aumento das reservas internacionais, inflação relativamente controlada, investment grade... Com o petróleo perto da máxima histórica, a Petrobras descobriu uma das maiores reservas do mundo. Quando veio a crise, esta atingiu primeiro e mais fortemente os países e empresas muito alavancados -- sendo que o Brasil, por razões históricas (e não por mérito) é, provavelmente, a economia grande menos alavancada do mundo. Para completar, a recuperação da crise tem sido marcada por uma alta generalizada em preços de ativos, e a ciranda favorável para o Brasil segue rodando. Com toda essa combinação, é preciso ser muito cético para não achar que Lula tem algum mérito. Certamente ele tem, mas ele é muitas vezes menor que a simples e pura sorte do presidente (sim, sou um cético).

O oportunismo foi, até há pouco, político. Lula tem a incrível capacidade de estar ao lado de todos e contra ninguém. Seus aliados podem ser derrubados, mas Lula nunca tem nada a ver com isso, nem sequer sabia do que acontecia. O investidor Jeremy Grantham já chamou os apadrinhados de Robert Rubin de "teflon men". Se ele acompanhasse a história de Lula, provavelmente teria que redefinir o termo.

Tudo isso para falar que, aparentemente, estamos entrando numa nova era de oportunismo, desta vez no campo econômico. Pois a crise danificou muito a idéia de livre mercado, e agora dá vez novamente aos partidários do "estado grande". E é muito fácil (e conveniente) encaixar o Brasil nesse contexto: saímos rápido da crise porque o governo foi prudente na euforia e investiu e aumentou os gastos quando todos estavam apavorados. Portanto, quem sabe quando, quanto e onde investir é o sábio Estado. Fora com os especuladores gananciosos e empresários covardes.

A interpretação pode parecer exagerada, mas veja esses trechos da entrevista de dona Dilma na Folha de ontem (se achar que estou sendo viesado na escolha das frases, vejam a entrevista completa aqui):



O que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida.

FOLHA - Nacionalista vocês aceitam. E estatizante?

DILMA - Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o indutor do desenvolvimento, concordo.

O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.

Não se trata de prejuízo, se trata do tamanho do lucro, a mesma coisa da Petrobras. O que vale para a Petrobras vale para a Vale.


(A Vale, como sabemos, é uma empresa privada.)



Agora é hora de fazer investimento. Quem tem investimento e parou por conta da crise deve retomar. Investimentos agora vão durar três ou quatro anos e esse é o tempo que eu trabalho para que a União Européia comece a sair da crise.

Hoje poderia ser afirmada aqui que acabou definitivamente a empáfia nesse país. Aquela empáfia que tinha o governante, que achava que sabia tudo, do ministro da Fazenda que fazia um pacote atrás do outro, acabou a empáfia dos empresários que achavam que o Estado não valia mais nada, e eu penso que acabou a empáfia de uma parte da imprensa que achava que achava que com suas manchetes podia criar o clima que quisesse na sociedade.


Para quem acompanha o que escrevo, é quase desnecessário dizer o quanto acho perigosa essa idéia de "Estado grande" ganhando força. Lula está errado. Pode ter acabado a empáfia de alguns empresários, mas a empáfia do governo só aumenta. Lula e o PT estão aproveitando o momento da economia para enfiar goela abaixo do país a noção de que é necessário aumentar a influência econômica do Estado, que concentrar as decisões de investimento é bom e que um time de burocratas pouco preparados pode substituir o mercado. Há, novamente, a chance de que a sorte de Lula se estenda pelos próximos anos e que o Brasil entre num ciclo de prosperidade forte a ponto de diluir as barbaridades e ineficiências de uma economia dominada por políticos. Mas há, também, uma concentração de poder, que é exatamente o que a democracia tenta evitar. E há o risco de desastre, como a história já mostrou em tantos outros casos de economias controladas por planilhas manipuladas com arrogância, pretensão e pouco respeito a opiniões divergentes. Me abstenho de fazer previsões, mas fica aqui a justificativa da minha preocupação.



A ilustração foi roubada do cartaz do ótimo documentário brasileiro "Soy Cuba - O Mamute Siberiano", de Vicente Ferraz.

Keynes - o retorno do mestre

É o título do novo livro de Robert Skidelsky. Gregory Mankiw resenha no WSJ. Eu dependo da boa vontade da Amazon e da receita federal para conseguir ler (histórico recente: tenho pedidos abertos desde junho que ainda não foram entregues).

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Qualidade do crédito: quem se preocupa?

Um estudo muito interessante resumido no Vox alega que o crescimento do papel das agências de classificação de risco no mercado de títulos fez com que os bancos perdessem o incentivo para associar suas marcas a bons produtos e deixassem de se preocupar com a qualidade dos créditos que vendem. Nas palavras dos pesquisadores:

In one of our interviews with the emerging market debt community in New York, we were told “Investment banks would underwrite anything – for a fee.” Does it ring a bell? Between the investment banker who would underwrite anything for a fee and the rating agency who would rate a horse (presumably for a fee, too), what would you choose?

Por outro lado, muitos compradores desses títulos deixaram de fazer a "lição de casa", preferindo confiar numa nota atribuída por uma agência a fazer um estudo detalhado de crédito. Foi uma das receitas para a crise. É mais um aspecto do mercado financeiro que continua inalterado, como se tivesse sido uma experiência muito bem sucedida...

Realidade do mercado

Recebi hoje por e-mail. Não entendeu? Clique aqui.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

É tudo uma questão de incentivos...

No portal G1:


Update:
Grande Bulgária.

"Ainda temos a mesma doença"

Nassim Taleb é entrevistado pelo The Globe and Mail canadense. Como de costume, ótima leitura. A frase que fecha a entrevista é impagável:

"A Wall Street trader who's also a belly dancer will do a lot better than a trader who winds up driving a taxi."

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Estratégia de investimento vencedora no ano

Até agora, bastou vender o dólar americano e comprar qualquer coisa. O gráfico ao lado (clique para ampliar) mostra, com base 100 para o último dia do ano passado, o desempenho de um índice global de bolsas (MSCI), um índice de commodities (CRB), o ouro e o dólar (DXY). Bem-vindos ao modo bolha, novamente.

Conexão Ceará - Cazaquistão

Não é o Didi Mocó fazendo uma ponta no novo filme do Borat. A economista cearense Márcia Favale-Tarter (que tem um currículo bastante respeitável, com muitos anos de experiência em grandes instituições financeiras) foi contratada no final do ano passado para assessorar o governo do Cazaquistão na recapitalização do sistema bancário local. Hoje ela aparece no Valor com o seguinte exemplo de sinceridade:

"Já estamos em default, o que procuramos agora é resolver logo a questão."

O default, no caso, é sobre uma dívida de US$ 18 bilhões dos bancos cazaques com outros bancos no exterior. Como outros tantos países, sobretudo no leste europeu, o Cazaquistão aproveitava a facilidade de obter linhas de crédito a juros baixos em moeda estrangeira, usando-as para financiar a economia local. A estratégia funciona enquanto o país tem contas externas relativamente equilibradas e consegue gerar os fluxos de moeda forte para repagar os empréstimos e manter a moeda local estabilizada. Num cenário de crise, esses fluxos diminuem e, ocasionalmente, forçam o país a desvalorizar a moeda local para atrair mais capital. A desvalorização faz com que os empréstimos em aberto tornem-se mais difíceis de serem honrados, e aí aparecem os calotes. O Cazaquistão desvalorizou a moeda local, o tange, em 20% este ano. Alguns outros países (os bálticos, por exemplo) estão envolvidos exatamente no mesmo tipo de operação, mas têm conseguido manter suas moedas ancoradas. O que o mercado deveria temer (e tem ignorado com "i" maiúsculo) é um efeito cascata, como o ocorrido no sudeste Asiático em 1997 -- uma desvalorização gerando desconfiança quanto à sustentabilidade de outras moedas e fuga de capitais dos respectivos países.

Ontem li uma entrevista de um famoso gestor de investimentos (no livro Inside the House of Money) que dizia que os mercados podem ser incrivelmente lentos para reagir a grandes eventos. Quem acompanha o blog deve estar cansado da minha visão pessimista da situação dos mercados, mas não consigo deixar de pensar que podemos estar, novamente, tentando ignorar algumas fissuras gritantes no mundo financeiro.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Bernanke decreta o fim da recessão

Exatamente um ano depois da queda da Lehman. Não pode ser coincidência. Banqueiros centrais não deixam de ser políticos... e a força para fazer o mundo acreditar que os problemas no mercado financeiro são coisa do passado e que o governo é a salvação é absolutamente impressionante.

Novo dicionário financeiro

No Wall Street Journal. Provavelmente o melhor texto "comemorativo" de um ano da quebra da Lehman que você vai ler.

Uma visão realista de desenvolvimento

O prof. Delfim Netto, em sua coluna semanal do Valor, cita uma pesquisa do Gallup que correlaciona o nível do PIB per capita com um índice de satisfação geral (gráfico ao lado), e chega a uma conclusão pouco romântica: desenvolvimento sem crescimento é praticamente impossível. Seja por um preceder o outro, seja porque os motivos que levam ao desenvolvimento também induzam crescimento (recomendo o livro de William Easterly sobre o assunto, para os mais interessados). E a tal "sustentabilidade", para as pessoas, só é relevante quando passa a ser uma escolha. O texto do Delfim é excelente, não deixe de ler.

Indicadores contrários do dia

Para quem gosta de indicadores contrários, o caderno de finanças pessoais do Valor de hoje está um deleite: uma projeção de 200,000 pontos para o Ibovespa e uma tentativa de reabilitar os analistas de ações.




Ibovespa 100%

O principal índice de ações brasileiro bateu hoje 100% de valorização acumulada (em dólares). De longe o melhor desempenho entre as principais bolsas do mundo. O pessimismo, por enquanto, não teve vez por aqui.

US$ 222,7 milhões...

... é quanto o setor financeiro nos EUA já gastou com empresas de lobby político este ano. Número declarado pelas próprias empresas de lobby, e, portanto, com boas chances de subestimar o valor efetivo. Desde 1998, foram cerca de US$ 3,7 bilhões.

A tabela com o ranking dos gastos deste ano é esta (notem que o setor financeiro não é o que mais gastou). Dados do OpenSecrets.org.:

Frase do ano (passado)

"We have a long track record of pulling together when times are tough... We're on the right track."

Richard Fuld, então presidente da Lehman Brothers, em 10 de setembro de 2008. Hoje faz um ano que o banco amanheceu falido.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Aula de economia do dia

The Big Picture usa a decisão dos EUA de impor tarifas à importação de pneus chineses para lembrar da sonolenta aula de economia do maior clássico da Sessão da Tarde: Curtindo a vida adoidado (Ferris Bueller's Day Off). Divirtam-se:



“In 1930, the Republican controlled House of Rep, in an effort to alleviate the effects of the… Anyone? Anyone?… the Great Depression, passed the…Anyone? Anyone? The tariff bill? The Hawley-Smoot Tariff Act which, anyone? anyone? Raised or lowered?… Raised tariffs, in an effort to collect more revenue for the federal gov’t. Did it work? Anyone? Anyone know the effects? It did not work, and the US sank deeper into the Great Depression.”

Mundo pós-crise - versão bancos

Relatório do Credit Suisse sobre o mundo pós-crise. Algo interessante, mas, como na Veja, nada de realmente novo.

Credit Suisse - The world post the credit crisis

Mundo pós-crise

Amanhã faz um ano que a Lehman Brothers afundou e o mercado se deu conta que o problema com os bancos era um pouco maior do que "só" alguns papéis ligados à hipotecas de alto risco. Por conta disso, a imprensa está pipocando de retrospectivas e análises sobre "como será o novo mundo". Este é o tema da Veja desta semana. Não espere encontrar nenhuma novidade -- a mesma ladainha do "mundo liderado por emergentes", "Brasil ganhando espaço"... e a opinião dos mesmos "especialistas" que falharam em prever a crise do ano passado.

Não acho que o mundo tenha mudado tanto. A dinâmica do mercado financeiro continua a mesma: dinheiro barato e abundante inflando preços de ativos, com pouca diferenciação entre qualidade. Tudo sobe: commodities, ações, títulos do governo... Até que algo sai errado (difícil prever exatamente o quê, já que o sistema parece ter diversos elos fracos) e voltamos à situação anterior, onde o que vale é dinheiro, líquido e certo. Acho que a principal diferença agora é a situação dos governos. Tudo depende deles: eles "salvaram" a economia, cortaram os juros, aumentaram os gastos, absorveram os ativos podres... Exatamente por isso estão mais fragilizados: espera-se tanto de bancos centrais e ministros de finanças, e seu arsenal é mais limitado.

Estamos num mundo de muita dívida e muita incerteza sobre quem pagará por ela. Os EUA são o maior e mais evidente exemplo: nos próximos anos, eles devem lidar com os déficits enormes gerados pelos programas de estímulo e com o grande problema do sistema de saúde ainda para ser resolvido. Tudo isso sem aumentar impostos, claro. E com cada vez menos setores capazes de competir internacionalmente. Otimistas, minhas desculpas. A conta não fecha. E o mesmo vale para muitos outros países e empresas. Basta olhar um pouco além da superfície.

Acho que a verdadeira mudança vai acontecer quando uma parecela relevante de toda essa dívida for destruída. Isso pode acontecer com inflação ou calote. Ou ambos. Nenhum cenário é particularmente auspicioso: destruir dívida é, por um lado, destruir riqueza, e ninguém gosta de perder o que "conquistou" -- de onde pode-se esperar uma reação conservadora, o que é ainda menos auspicioso. Só dá para lamentar a chance que o mundo teve, no fundo do poço da crise de crédito, de se reerguer sobre bases mais sólidas. Isso não aconteceu. Os antigos privilégios foram mantidos, e não houve nenhum incentivo para mudança. Optou-se por comprar tempo. O interessante é que essa estratégia gerou uma reação espetacular, muito mais rápida do que muitos imaginavam. Como compensação, deve acelerar também a nova queda assim que descobrirmos que o rei continua nu.

* Podem argumentar que o pessimismo é reflexo da segunda-feira e do tempo horroroso de São Paulo. Talvez o tom mudasse, mas a mensagem seria a mesma numa sexta-feira ensolarada.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

PIB 2º trimestre = +1,9%

Maior, portanto, que as "previsões" do Ministério da Fazenda. Preparem-se para o tradicional discurso da "marolinha", repetido à exaustão.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Mais um recorde para nos envergonharmos

O Wall Street Journal traz hoje uma matéria falando sobre o mercado de carros blindados em São Paulo. A cidade, segundo estimativas, é a capital mundial da blindagem de automóveis -- uma evidência anedótica gritante da desigualdade de renda e oportunidades que ocorre por aqui (pode também ser lida como um atestado de ineficiência do combate ao crime - mas o crime não ocorre por acaso). Deve ser também o único lugar do mundo onde se manda blindar um carro de 85 cavalos de potência (o Smart aí do lado, também citado na matéria).

Conclusão do sequestro do avião no México

Recebi no e-mail corporativo hoje. Acho que resume bem o caso. Só podia acontecer na América Latina, mesmo. Nada mais a declarar.


From all the bizarre things that happened in Mexico this year, by far the bizarre-est if that word exists is yesterdays plane hijacking.

The perpetrator is a Bolivian singer/Christian leader with a TV show who had a vision that on 09/09/09 Mexico would suffer a major earthquake. The date inverted is 666, also known as the number of the beast. Therefore to avoid the hijacker wanted the pilot to fly over Mexico city 7 times. The pilot told him there was no more gas to fly 7 times and that's when the mess began.

When negotiators talked to the hijacker, named José Marc Flores Pereira, he said he a total of 4 people in his team.

When the police captured him, there was only one person, himself. They asked him about the other 3 members he said "the father, son and holy spirit" were the other 3.

This is all true, happened yesterday in Mexico city.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

E o terrorismo chega ao México...

Um grupo de bolivianos sequestrou um avião da Aeromexico que ia de Cancun à Cidade do México. O avião está pousado no Aeroporto Internacional da Cidade do México, e os terroristas ameaçam explodí-lo caso não consigam falar com o presidente Felipe Calderón.
Parece piada sem-graça. Recessão, gripe suína... era o que faltava para o México.

Mais aqui.

Ouro em euros

Um comentário muito pertinente no post de ontem sobre o ouro questionava: o ouro está subindo ou é sinal de fraqueza do dólar? O gráfico abaixo mostra o ouro cotado em euros -- que ainda está a cerca de 14% da máxima dos últimos anos. Pobre dólar.







terça-feira, 8 de setembro de 2009

Tamanho importa...

... ao menos para nações soberanas. É o quer argumenta Anne Sibert, comentando sobre o caso da Groenlândia (60 mil habitantes), que está caminhando para a independência completa da Dinamarca. Economias pequenas, segundo ela, estão sujeitas a maior volatilidade no produto e no consumo; alguns bens públicos têm custos fixos altos, e, portanto, são inviáveis para uma base contribuinte muito pequena; e países pequenos enfrentam dificuldades para encontrar servidores públicos competentes entre seus habitantes.

Os habitantes da Groenlândia tinham a opção de seguirem sendo ricos dinamarqueses; vão terminar donos de passaportes de uma nação que já vai nascer problemática. Prova de que racionalidade econômica não necessariamente faz companhia à política e nacionalismo.

Paul Krugman e o futuro da economia

Para os que se interessam sobre o tema, Paul Krugman publicou um longo artigo na revista do New York Times deste final de semana (as charges que o acompanham são excelentes). É uma interessante revisão de como evoluiu (ou não) o pensamento econômico desde Adam Smith. Para Krugman, a profissão de economista foi desmoralizada porque o mainstream confundiu a beleza e a elegância de modelos matemáticos com a verdade, e os próximos esforços acadêmicos na macroeconomia terão de levar em conta a realidade dos mercados financeiros, esses desconhecidos. Esse caminho, na opinião dele, pode passar pela finança comportamental (behavioral finance) e, como tem sido praxe, por uma reabilitação do velho Keynes.
O ótimo Ultimi Barbarorum observa que o último a esboçar uma boa teoria que tentasse abranger finanças e macroeconomia foi o próprio Keynes -- que, após uma vida dedicada a isso, concluiu que mercados financeiros são movidos por "espíritos animais". Uma grande expressão, mas de pouco uso para prever e prevenir crises.
Tentando achar uma luz em um cenário desanimador, acredito que o fato de o atual prêmio Nobel de economia chamar tanto a atenção para a necessidade de se vincular a teoria econômica ao mundo real (já escrevi sobre esse tema aqui) é um passo na direção correta.

Auri Sacra Fames

Houve um tempo em que o preço do ouro era considerado um grande indicador de aversão a risco. No momento em que escrevo, o preço do outro está trabalhando na máxima histórica (perto de US$ 1005 / onça) e todos os índices de ações que acompanho estão subindo. Mudou o mundo ou alguma coisa muito estranha está para acontecer?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A conta do trem-bala

Ontem o BNDES (leia: o povo brasileiro) anunciou que vai financiar quase R$ 21 bilhões da obra do trem-bala que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro, orçada no total em R$ 34,6 bilhões -- quase o PIB da Bolívia. O número parece astronômico, então resolvi fazer algumas contas. Acompanhem:

- O Japão entregou pouco antes das Olimpíadas de 1964 o Tokaido Shinkansen, o famoso trem de alta velocidade que liga Tóquio a Osaka (esse aí da foto). O custo da obra foi, na época, de aproximadamente ¥ 400 bilhões. Convertidos ao câmbio de ¥ 360 / US$, temos US$ 1,1 bilhão.

- Converter valores monetários depois de muito tempo é sempre um problema. Neste caso, depois de converter para dólares, a aproximação que achei melhor foi corrigir os US$ 1,1 bilhão pela variação de um índice de preços ao produtor (PPI - preços cresceram 5,1 vezes no período) e pelo crescimento de custos do trabalho (unit labor costs - cresceram 7,4 vezes no período). Podemos imaginar (engenheiros civis que me corrijam, é só um chute -- ainda vai faltar uma estimativa melhor dos custos de desapropriação e tantos outros) que o custo da obra pode ser dividido em 50% de insumos e 50% de mão de-obra. Multiplicando [(0,5x5,1) + (0,5x 7,4)] x US$ 1,1 bi, chegamos em US$ 6,9 bilhões -- cerca de R$ 12,7 bilhões, cerca de 40% do orçamento brasileiro.

- Mais difícil ainda é comparar esse número, mesmo que esteja razoavelmente correto (pelo menos estamos falando de ordens de grandeza equivalentes), com o que pode ser gasto no Brasil. Como se compara o custo de terra e mão-de-obra daqui hoje com os do Japão dos anos de 1960? O orçamento será seguido de perto? Provavelmente, não. O trem de alta velocidade brasileiro será uma operação lucrativa? Se seguir o exemplo da França, que tem uma das maiores e mais eficientes redes do mundo, dificilmente. Antes de tudo isso, o projeto realmente sairá do papel?

Ainda que pareça ilógico, acho que mais importante que esses números seria a efetiva volta do país à grandes obras de infraestrutura. O impacto indireto e o legado são muito difíceis de serem avaliados quantitativamente, mas não tenho dúvida que fariam muito bem ao país (a linha japonesa que mencionei acima tinha transportado, até meados de 2007, cerca de 4,5 bilhões de passageiros. Como mensurar o benefício do tempo economizado e aumento do bem-estar dessas pessoas?) -- por mais que seja triste ver o desperdício de recursos e a politicagem envolvida, atualmente não existe outro jeito de as coisas acontecerem por aqui.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Testosterona, baby

A The Economist escreve sobre um trabalho publicado recentemente que fornece uma explicação biológica para o predomínio de homens no mercado financeiro: apetite a risco é uma questão de testosterona.

Os pesquisadores estimaram o nível do hormônio em estudantes por análise de saliva e a exposição à testosterona antes do nascimento medindo a relação entre o comprimento dos dedos anelar e indicador (anelares mais longos indicam mais exposição -- olhe para sua mão antes de investir) e a capacidade dos pesquisados de determinar emoções humanas observando olhos das pessoas. Posteriormente, ofereceram às "cobaias" diversas escolhas que avaliam a disposição a tomar risco (do tipo: receber US$ 50 ou jogar uma moeda para tentar ganhar US$ 100 ou nada).Mais testosterona, tanto na saliva (predominatemente) quanto na exposição pré-natal, geralmente implica em escolhas mais arriscadas.
Curiosamente, há quem diga que a crise financeira do ano passado é um dos sinais de fim da era dos "machos-alfa" (ver aqui um ótimo texto de Michael Lewis sobre a Islândia, o arquétipo de país dominado por homens e que desmoronou em 2009), e que estaríamos entrando em um mundo mais "feminino" -- e, portanto, de decisões menos arriscadas (e menos racionais, diriam os maldosos).
A íntegra do trabalho está aqui.

Frase do dia - David Neeleman

“It sometimes feels like this country is built for 20m people.”

Do presidente da Azul, David Neeleman, falando, claro, do Brasil -- e apostando em um boom de infraestrutura no país. Está na última The Economist.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pernambuco pela divisão de recursos do pré-sal

Quase dói elogiar um político (mesmo por contraste), mas tenho que fazer menção ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que levantou a necessidade de se discutir mais a fundo o privilégio que alguns estados e municípios têm recebendo royalties e participações especiais por estarem geograficamente próximos às áreas de exploração de petróleo (já tinha escrevido sobre o tema aqui). Meus aplausos tímidos ao governador.

Mais na Folha Online.

Por dentro da economia

Os insights do dia (clique para aumentar):












Via The Big Picture e Gregory Mankiw.

Frase(s) do dia - Lula-lá

Uma aula de macroeconomia pelo Nosso Guia, no encerramento do 27º Encontro Econômico Brasil-Alemanha:

"Nós temos um mercado interno tão extraordinário que não podemos ficar chorando a queda das exportações. As exportações são algo que a gente queria, é como se fosse a espuma no copo de chope. É importante, dá prazer ao copo de chope, mas o mercado interno é toda a parte amarela, que é o conteúdo mesmo que a gente quer. Eu nunca vi gente ficar bêbado por beber espuma, mas vi gente ficar bêbada por beber a parte amarela."
Prost, presidente.
Esta e mais pérolas no Globo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Qual o melhor assoprador de bolhas do mercado?

Não, não é o Fed -- este talvez seja o maior. A resposta está aqui.

Dica do Balu

O poço do Lula (e dos "companheiros")

"... O descobrimento do petróleo representa um fato de significação mais alta do que podemos conceber. Representa algo mais importante do que a própria independência do Brasil. No dia 7 de setembro o Brasil proclamou a sua independência política, mas só agora acaba de proclamar a sua independência econômica. Em que dia foi?

- O poço jorrou no dia 9 de agosto - respondeu Narizinho.

- Pois o 9 de agosto vai ficar imortalizado na história do nosso país. A República Argentina considera feriado nacional o dia 19 de dezembro, data do aparecimento do petróleo em Comodoro Rivadávia. Breve teremos aqui no Brasil o 9 de agosto transformado em data nacional, ao lado do 7 de setembro. Este comemora a nossa independência política; o 9 de agosto comemorará a nossa independência econômica."*

Monteiro Lobato escreveu esses parágrafos há 72 anos, mas basta trocar a data que eles poderiam estar no discurso do presidente Lula de ontem -- provando que a idéia de que o petróleo pode trazer independência econômica não é nova, nem original. Muito já está na imprensa sobre o marco regulatório do pré-sal, que foi encaminhado para o congresso ontem. Queria chamar atenção para um aspecto que foi relativamente negligenciado: a relação do pré-sal com desenvolvimento.

No domingo (antes, portanto, do anúncio oficial), Lula já tinha assegurado aos governadores de alguns estados (RJ, SP e ES) que a política de royalties e participações especiais seria mantida na nova regulação. Isso significa que alguns estados e municípios que, por acaso, estão "perto" (alguns a muitos quilômetros) das áreas de exploração continuarão sendo beneficiados, agora com uma receita extra, pela exploração do petróleo. A história de que "o dinheiro do petróleo é dos brasileiros" esquece de mencionar que alguns são mais brasileiros que os outros. Para realçar a injustiça: Rio de Janeiro e Espírito Santo são os municípios que, atualmente, mais se beneficiam com essa receita, e têm, respectivamente, o quarto e o sétimo melhores IDHs do país. O município de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, fica com 59% dos royalties e 54% das participações especiais distribuídas para essas autarquias, e sua população é de 430 mil habitantes (0,2% da população do Brasil - mais dados em uma ótima matéria do G1). Mais um exemplo de conservadorismo e comodidade contra o desenvolvimento do país.

Hoje, no Valor, o professor José Eli da Veiga (link para assinantes aqui, logo mais deve estar no site do professor, também) diz que as elites brasileiras parecem estar novamente perdendo o bonde da história, ao "retalhar as prováveis rendas desses escasso recurso natural para atender interesses que nem de longe poderiam colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento". Para ele, toda a receita do óleo deveria ser investida em ciência, tecnologia e inovação (imagino que a educação esteja implícita), bases para qualquer futuro minimamente sólido. Pela amostra que tivemos ontem, acredito que o que vai ser destinado a esses campos vai ser a "sobra" do que os atuais grupos de interesse conseguirem embolsar (sem contar os muitos riscos e incertezas envolvidos no futuro do pré-sal). E a tal "independência econômica", que, traduzida para a linguagem de hoje poderia muito bem significar "desenvolvimento sustentável", fica para os próximos 72 anos.

* Tanto a citação quanto a ilustração são de "O Poço do Visconde (Geologia para as crianças)", publicado em 1937. A defesa de Monteiro Lobato do petróleo nacional, evidentemente, não tem nada de infantil.

Não poderia faltar


Felizes e sofridos 99 anos.

Para animar a festa

Nada como um grande banco dizendo que a Bovespa ainda tem mais 14% para subir até o final do ano... e vem aí mais uma enxurrada de emissões, para capturar o último dinheiro dos incautos.