quinta-feira, 17 de julho de 2008

V de Vingança

A atual tendência da pesquisa econômica de recolher toneladas de dados, jogá-los em um modelo econométrico e analisar os resultados é muitas vezes sonolenta, mas pode produzir alguns resultados interessantes. Um trabalho recentíssimo, de autoria do professor Naci Mocan, da Louisiana State University, e publicado pelo NBER trata de (palavras do autor) "uma parte integral do comportamento humano": a vingança.

O estudo analisa entrevistas feitas (por um instituto da ONU) com mais de 89.000 pessoas em 53 países. O "nível de vingança" dos entrevistados foi medido por meio de duas perguntas: primeiro, se uma pessoa apanhada roubando uma tv em cores (sendo que essa pessoa já havia roubado uma vez) merecia ser punida com multa / prisão / serviço comunitário ou ser perdoada. Para os que escolhiam a prisão como sentença, era feita a segunda pergunta: por quanto tempo o criminoso deveria ficar preso? As alternativas iam de menos de um mês até prisão perpétua.

Mocan conclui que o desejo de vingança é maior em países com níveis baixos de educação e renda e fraco arcabouço legal (em Botswana, 14% dos entrevistados optariam por prisão perpétua para o crime). Ou seja, o desejo de vingança diminui na medida que um país desenvolve-se economicamente e torna-se mais estável politicamente. Mas a descoberta mais interessante está em outra quebra dos dados: entre outros grupos, idosos (contrariando os versos do samba de Nelson Cavaquinho: "Vingança, meu amigo, eu não quero vingança / os meus cabelos brancos / me obrigam a perdoar uma criança...") e mulheres provaram-se mais vingativos. Sim, mulheres. Alguma surpresa?

A íntegra do trabalho (em inglês) está em http://papers.nber.org/papers/w14131.

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